Dia Mundial da Poesia

VER CLARO

Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
um lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar 
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.

Eugénio de Andrade

Um poema por dia

Nunca encontrei um pássaro morto na floresta.

Em vão andei toda a manhã
a procurar entre as árvores
um cadáver pequenino
que desse o sangue às flores
e as asas às folhas secas...

Os pássaros quando morrem 
caem no céu.          
José Gomes Ferreira

[Escultura realizada por Rafaela Lopes, 6.º ano, em Educação Tecnológica.]

Um poema por dia

"A fome e o cansaço eram o pior. 
Os sapatos rompiam-se de tanto caminhar, os pés doíam, mas havia que seguir em frente. 
Quem lhes dera ter asas!" 

in “Uma longa viagem “, texto de Daniel H. Chambers e ilustrações de Frederico Delicado

[Escultura realizada por Maria Inês Ferreira, 6.º ano, em Educação Tecnológica.]

Um poema por dia

[Escultura realizada por aluno do 6.º ano, em Educação Tecnológica.]

Cubos parados

Dizem que os planetas
são redondos porque estão sempre
a girar, a rodar, a dançar, a valsar.
Eu sempre pensei que era o contrário:
que giravam porque eram redondos. Por exemplo, 
a minha bola gira porque é redonda, mas
é importante dizer que
os bolinhos doces que a mãe faz com farinha
são redondos porque ela os faz girar nas mãos. É possível
que a resposta seja tão difícil de dar
como aquela da galinha e do ovo.
O que nasceu primeiro?
As coisas redondas ou o acto de girar?
Os cubos estão parados porque são cubos
ou são cubos porque estão parados?

Afonso Cruz